12.12.07

32.º aniversário

Quarta-feira, 12 de Dezembro de 2007.

Se fosse viva, a editorial Atalho cumpriria hoje 32 anos de idade.
Paz à sua alma.

O Profeta mandou fazer um bolo de aniversário à defunta.
Foi servido na cantina da Textículo Editores, no Cacém.
Sobrou quase todo.
Se o Profeta soubesse tanto de pastelaria como sabe de despedimentos, certamente não teria sobrado tanto. Que Deus lhe perdoe.

PS: Consta que houve um jantar de comemoração entre os que a mataram, os predadores do espólio, os cangalheiros, alguns herdeiros legítimos, outros ilegítimos, um coelho, vários turistas anónimos de passagem e uma ou outra carpideira.
Parece que, infelizmente, nem o camarada laureado nem o camarada Jirónimo puderam estar presentes nas comemorações.

Terão os cangalheiros cantado os parabéns à vítima?
Que Deus (e Álvaro Cunhal... e Vítor Branco... e Loureiro... e tantos outros, incluindo o Jacinto) lhes perdoem.

4.10.07

Arquivo das trafulhices

Em Maio de 2007

O segredo de Fátima

Os trabalhadores sabiam (por alguns autores e pelos jornais) que a editora estava mais do que vendida... mas a verdade a que tinham direito era esta:

«Estamos a ponderar... uma proposta de compra da Editorial Atalho»

(O então Presidente do Conselho de Administração [um »destacado comunista», salvo seja] no plenário da Administração [todos «comunistas», salvo seja] com os trabalhadores, 18 de Maio de 2007)


Ainda em Maio de 2007

Se o ridículo matasse...

«Demos conta de que roubaram um quadro da parede do auditório da Editorial Atalho [...] apelo à vigilância revolucionária dos trabalhadores para que se consiga evitar a delapidação do nosso património [...] estamos rodeados por... [pausa para pensar] um ou dois gatunos. E não digo mais nada. Bom dia»

(O então Presidente do Conselho de Administração [»destacado comunista», salvo seja] no plenário da Administração [todos «comunistas», salvo seja] com os trabalhadores, convocado de emergência para as 12 horas e 40 minutos de 31 de Maio de 2007)


Em Junho de 2007

Golpe finalmente assumido:

«Nós os seis, enquanto accionistas [leia-se: empresários do alheio], acabámos de assinar o contrato-promessa de compra e venda da Editorial Atalho ao Eng. Miguel Pais do Amaral»

(O então Presidente do Conselho de Administração em plenário com os trabalhadores de 28 de Junho de 2007, 16.08 h)



Prémio de excelência

A Editorial Atalho, SA recebeu, em 2000, um prémio do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas.


Rezava assim:
O PRÉMIO DE EXCELÊNCIA do IAPMEI é atribuído a [...] EDITORIAL ATALHO, SA / CAE. 22110 / Capital Social: 322.233 Cts. / Vol. Negócios: 946.640 Cts. / Nº de Funcionários: 53 / Activos Liquidos: 757.922 Cts. / Resultados Liquidos: 92.359 Cts [...].

Não há dúvida que foi um prémio justo, bem entregue e bem merecido.Ficamos a aguardar a próxima atribuição pelo IAGEF (Instituto de Apoio às Grandes e Enormes Fundições) de outro prémio. Desta vez à Fundição do Zé.

Um fortíssimo aplauso

Mais recentemente, a Editorial Atalho recebeu um certificado do Banco Millenium BCP que lhe confere o título de

«CLIENTE APLAUSO 2005»

e que diz o seguinte:

« A EDITORIAL ATALHO, SAé certificada pela solidez financeira, desempenho económico, capacidade de inovação e envolvimento com o Millenium BCP [...].»




[CONTINUA]

19.8.07

O busto de Lenine



São robustos e morenaços quando fundidos em bronze. Mas pálidos e frágeis se moldados em gesso. Ficam mudos e quedos onde quer que os coloquem. São sempre carecas.
O único exemplar que resta é de bronze. Jaz abandonado junto a uma janela, no rés-do-chão de uma imponente moradia, na avenida Gago Coutinho, sede (em Lisboa) da Fundição do Nosso Laureado. Paz à sua alma.


um.
A sala estava às escuras. Ele entrou à socapa. Mesmo na penumbra, era-lhe fácil identificar o vulto. Aproximou-se dele pé ante pé. Sorrateiramente, tocou-lhe. Sentiu-lhe a testa fria e isso perturbou-o. Tinha que ser rápido. Vociferou uma imprecação surda.
Aquele tipo estorvava-lhe o futuro.
Com um gesto nervoso, agarrou nele e — zás! — trancou-o no armário.
O ruído seco e cruel ecoou por todos os gabinetes.
Já está! — pensei eu — Já o encafuou outra vez.
Depois, adivinhei-lhe o som abafado dos passos sumindo-se no fundo do corredor.


dois.
Ao princípio, escondia-o dissimuladamente. Apenas por uma hora ou duas. Mas, à medida que a obsessão se acentuava, passou a encafuá-lo descaradamente duas e três vezes por dia.
Ultimamente, nem sequer se dava já ao trabalho de tornar a pô-lo no sítio.
Era a camarada da limpeza quem ia dar com ele, na manhã seguinte, trancado no armário entre pilhas de originais recusados. Sobretudo romançada e poesia. Mas também um ou outro ensaio.
Indignada, soltava um Credo, benzia-se, colocava-o respeitosamente no lugar, polia-lhe a calva com o pano do pó, beijava-lhe a testa e passava-lhe o espanador pelo casaco. Sempre por esta ordem.
Tamanha ingratidão até à mulher da limpeza repugnava.
Que pouca-vergonha! — dizia ela entre dentes. Sim, tinha munta falta de cabelo, e depois? Via-se bem que era pessoa de categoria. Tomara eles chigarem-le aos calcanhares! Esses borra-botas que o papaguevam a torto e a direito, por dá cá aquela palha. Invejosos!
Via-se bem que era pessoa de posição. Até usava colete. E, embora fosse mudo, ela tinha aquase a certeza que era estrangêro. Aquilo eram tudo invejas.
Alguém o há-de ter metido pa drento do armário, não é? Atão, pois. Se o homem nem pernas tinha. Mas podiam ter a certezinha de que ela havia de descobrir quem era o estapor que encafuava o senhor, à bruta. Ou não se chamasse Estafânia da Conceição.

[Continua proximamente]